o metro de lisboa
Se não fosse criminoso,
o metropolitano de Lisboa seria só confrangedor.
O especialista em Transportes Fernando Nunes da Silva diz que é escandalosa a maneira como têm sido geridas as expropriações para a construção do Metropolitano de Lisboa. "O Governo vendeu um terreno na Falagueira e depois expropriou-o para construir a estação, mas a um preço superior, dadas as expectativas entretanto criadas na zona pela passagem do metro. Ora isto é um caso de polícia", disse ontem durante o 4º Encontro da Transportes em Revista, que decorreu em Lisboa.
Veja-se a chamada linha Vermelha/do Oriente/D, por exemplo. Aberta mesmo a tempo da Expo'98, o circo glorificador do regime e da portugalidade (a exposição dos centenários, diz-vos alguma coisa?), construída em tempo record, sabe-se lá a custo de quê, só agora se dignam ligá-la às linhas amarela e azul, para deixar de ser preciso mudar de comboio duas e três vezes e/ou percorrer dúzias de estações.
"Só agora" é uma figura de estilo qualquer que tanto pode significar o início de 2007 como o final do mesmo ano (ou o início de 2008, a primavera, por exemplo), consoante estivermos em "um pouco de história" ou em "obras em curso".
Dois ou três anos, portanto, que foi mais ou menos o tempo que se levou a construir as primeiras sete estações. E para fazer apenas as duas estações gémeas do Saldanha e de São Sebastião, quando o projecto original previa, para 2004 (sim, já passou), a criação da estação Técnico. Mas toda a gente sabe que os centros comerciais são mais importantes que as universidades (e de resto o IST ainda não é uma universidade).
Ou seja, a novíssima «primeira linha completamente independente que é inaugurada desde a entrada em exploração da rede em 1959»* só deixa de ser completamente independente oito ou nove (ou dez) anos depois...
[E vamos saltar por cima da Baixa-Chiado / Terreiro do Paço / Santa Apolónia, com conclusão prevista para o final de 2005 ou o início de 2006 (idem em relação às datas), se não se importarem. Aceitam-se larachas cinéfilo-políticas.]
Depois, há uma coisa chamada "prolongamentos em estudo". Se não caírem entretanto no
A linha amarela seguirá (?) do Rato até Alcântara, com apeadeiros na Estrela e Infante Santo. [E agora uma pergunta estúpida, que não tem qualquer relação com o facto de morar onde moro.]
Mas por que espécie de idiotia é que quando se construiu o túnel até ao Rato, túnel esse que até continua por mais quatrocentos ou quinhentos metros até debaixo do Lyceu Pedro Nunes, não se escavou mais "uma beka" até à Estrela? Era só mais um bocadinho, não custava assim tanto, e ligava o metro à rede (mind the joke, please, please mind the joke) de eléctricos...
(E também não percebo qual é a relevância de escrever que «a linha de Cascais ficará, assim, directamente ligada à zona das avenidas novas»*. Se é por uma questão de preconceito podiam dizer «e à Lapa», também, mas o problema se calhar é meu.)
A linha verde ligará (?) Telheiras à Pontinha, numa extensão de três quilómetros, que, finalmente (Finalmente?), fará com que quem queira ir, digamos, de Telheiras à Pontinha, deixe de ter de andar 16 estações com duas mudanças (ou 22 com uma, ou eventualmente 13 com três).
Ora, se o ministro que inaugurou a estação de Telheiras (terá sido o Morais Sarmento? estou a ver distintamente esse idiota a dizer isto, ou outro que o valha, mas em Novembro de 2002? ou a inauguração foi depois?) disse que era inútil construir uma única estação a 700 metros da anterior (isto lembra-me o Rato, não sei porquê), que era preciso rever (de facto...) a política de expansão da "rede" de metro, também não percebo que se caia no extremo oposto... O de fazer três quilómetros sem uma única estação intermédia. A não ser que depois de Telheiras seja o vazio (ou não haja empreendimentos imobiliários a precisar de mais-valias).
A linha vermelha é um disparate. Ao fim de sabe-se lá quanto tempo, alguém se lembrou de que talvez não fosse má ideia levar o metro até ao aeroporto. Quando lá chegar, há-de acontecer que maomé já lá não esteja. E, vá lá, para norte, há-de bifurcar igualmente até Sacavém (quanto tempo para chegar ao Rossio, por exemplo?).
Para sul/ocidente, e depois de São Sebastião, continuará até Campolide (ligação aos comboios, magnífico, esta gente pensa em tudo), Amoreiras (idem quanto aos centros comerciais) e Campo de Ourique. E pára por aqui... Estávamos mesmo a ver uma segunda ligação à linha amarela na Estrela, mas não, são só quinhentos metros, faz-se bem a pé, o bairro é simpático, tem passeios largos e árvores e passarinhos e bebés nas ruas. O mundo é lindo.
Mas, como não pode ser perfeito, evidentemente, é óbvio que não só é completamente descabida a ideia de ligar Campo de Ourique à Estrela (deus disse: «não unirás o que é igual», até deve estar na bíblia), como mais disparatada ainda a mera sugestão de que a linha continuasse até ao Cais do Sodré, com paragem algures na Avenida D. Carlos ou Rua de São Paulo ou da Boavista. Era só o que faltava, dirão.
Do mesmo modo, ou mais ainda, só alguém com uma noção absurdamente desligada da realidade é que poderia encarar a perspectiva de fantasias como a de ligar o metro a Benfica (à estação de comboios e ao bairro onde também não deve haver nada nem ninguém), a Alcântara (já não a estação de comboios mas também o bairro que fica por baixo e para lá da ponte) e por aí fora (Ajuda, Belém...) (já houve quem sugerisse Algés, gente muito doente, como é evidente).
Mas voltando à notícia do Público, e para acabar:
Na sua intervenção, [Nunes da Silva] considerou um "disparate" a ideia do Metro das Colinas, incluída no Plano de Mobilidade de Lisboa, devido sobretudo aos seus custos, defendendo soluções mais leves para aumentar a mobilidade das pessoas naquelas zonas da capital, como elevadores, funiculares e a reactivação dos eléctricos como a carreira 28.
publico.pt, 29.06.2005
O quê, disparatada a ideia atoardada pelo competentíssimo António Mexia (para quem ainda se lembre do dito)? O tipo que tão depressa construía uma nova ponte como um novo túnel sob o tejo, para logo a seguir desencantar vários novíssimos mapas de tgv??? Só mesmo se for por vir de quem veio, e em plena pré-campanha alargada...
E, de facto, não é razoável, não é para acreditar o vago anúncio de que não antes de 2010 (mas logo a seguir, seguramente) poderia haver uma linha das Colinas, com o percurso Campo de Ourique, Estrela, São Bento, Academia das Ciências, Príncipe Real, Avenida, Campo dos Mártires da Pátria, Gomes Freire, Estefânia, Arroios, Paiva Couceiro, Penha de França, Sapadores, Graça, Cerca Moura e Santa Apolónia. [1, 2, 3, 4, 5]
Isso faria do metropolitano de Lisboa... uma rede! Que coisa tão estranha.
(E sim, a ideia de funiculares e elevadores e eléctricos também me agrada, mas devem ter acabado com eles por alguma razão. E daí...)
ADENDA:
Outro louco, um arquitecto que escreve de vez em quando para o Público (o tal que só é de referência porque os outros são para lá de maus, mas que não me deixa lembrar o nome do senhor), aqui há tempos (imediatamente a seguir à pré-derrocada), sugeriu que se devia aproveitar para construir uma estação a meio do túnel do Rossio, com ligação subterrânea ao metro do Rato e utilizando à superfície o edifício Auto-Palace, do Ventura Terra.
Parece que o Carmona Rodrigues defendeu uma coisa parecida, junto dos seus compinchas, e que não teve sorte nenhuma. Isso passou-se em Novembro, não havia eleições à vista, e se calhar não dava tanto em luvas. A ideia não era do genial Mexia, ministro de 15 que daria um excelente candidato a primeiro-ministro, um melhor ainda presidente da câmara, mas só do Carmona, que o há-de ser duas vezes sem perceber como.