quinta-feira, julho 20, 2006


The use of Fawkes as an inspiration for V for Vendetta, amongst others, illustrates the way in which Fawkes has been adopted as a totemic figure by anarchist or anti-parliamentary groups, who sieze on the central element of the gunpowder plot - the destruction of Parliament - but ignore the motives of the plot, which were not anarchist at all. It is arguable that Fawkes, a committed Catholic in a time when religion and politics were inseparable, has more in common with the religious extremist terrorists of today than any other political group.

Citação roubada da Wikipédia; enciclopédia que não é melhor, nem pior, nem mais, nem menos facha, nem tem mais, nem menos gralhas que outra qualquer. Podeis ler sobre o homem do retrato e sobre a sua aventura terrorista e responder a esta pergunta:

a Wikipédia é mesmo montes de fixe e fenomenal e uma cena do futuro (assim como o Google e o IMDB o são) ou é só uma forma mais divertida e engenhosa de manipulação da populaça (da que é bem formada, sabe ler e teclar, e tem tempo e dinheiro para a e-vida)?


segunda-feira, maio 15, 2006

(eu sou só uma palavra.)

eu é só uma palavra.


terça-feira, maio 02, 2006

Não, esperem, importam-se de repetir?

Quem ser _nunomarques, o vosso?

(Lembra-me agora de repente «eu vi os melhores poetas da minha geração...»)

quarta-feira, abril 26, 2006

ztorinhaz pa boi dormir

História de Ayandal

Nesses tempos, numa outra terra, junto ao grande oceano, na aldeia de C´noth vivia Ayandal.
Ayandal era um dos jovens da aldeia. E, como todos os outros jovens da aldeia, sonhava com o dia em que se tornasse adulto e pudesse acompanhar os homens, nos barcos, viajando pelo oceano, pescando, visitando terras distantes, conhecendo outras pessoas e vendo coisas, sabendo o que não não poderia saber na aldeia.

...

O dia chegou em que Ayandal se tornava adulto. Acordou ainda antes de o sol se levantar no horizonte. Vestiu-se, bebeu uma caneca de leite, pegou no saco de provisões que a sua mãe lhe tinha preparado. Saiu de casa, olhou uma vez para ela e correu para o cais. Chegou ao raiar da alvorada. Esperavam-no os anciãos da aldeia, a ele e aos outros sete jovens que nesse dia deveriam fazer a Prova.
Quando finalmente estavam todos reunidos, um dos anciãos tomou a palavra. Cada um dos jovens, no seu bote, deveria navegar até perder vista de terra e encontrar um barco com velas listadas brancas e azuis. Nesse barco ser-lhes-ia dado algo que deveriam trazer aos anciãos.
Ayandal correu para o seu bote, desamarrou-o do cais e pegou nos remos.
Quando saiu da enseada era já o primeiro dos oito. Rapidamente arrumou os remos no fundo do bote e içou a vela única.
O bote deslizava sobre as águas e Ayandal, olhando para trás, via a aldeia tornando-se mais e mais pequena, até desaparecer, a costa tornando-se mais e mais indistinta, os bosques, os prados, os montes tornando-se uma massa indistinta de verde e castanho, até tudo se tornar uma enorme mancha cinza junto ao mar azul e depois desaparecer.
O bote deslizava sobre as águas e, para além do azul do mar e do céu, Ayandal via apenas sete manchas negras que ele sabia serem os botes dos seus companheiros. Olhando em frente viu algo. Primeiro, só um pequenissimo ponto negro no meio do azul do mar. Depois, enquanto o seu bote avançava, o ponto crescia para uma mancha, e de uma mancha tomava a forma de um barco. Ayandal via agora que era um grande barco mercante, as velas com listas azuis e brancas. Ayandal recolheu a vela do seu bote e remou, aproximando-se do barco.
Ayandal chegou junto ao barco, de onde lançaram uma corda e uma escada. A corda usou-a para amarrar o seu bote, a escada para subir ao barco. Os marinheiros cumprimentaram-no alegremente por ter sido o primeiro a chegar e um deles deu-lhe um colar com uma pequena placa em madeira. Nela viu uma inscrição com a insígnia de capitão. Sorrindo, colocou o colar ao pescoço, despediu-se rapidamente dos marinheiros e voltou ao seu bote. Enquanto o desamarrava viu as manchas no meio do mar tornarem-se os botes de dois dos seus companheiros que se aproximavam do barco. Ayandal remou até ganhar distância do grande barco mercante, recolheu os remos e voltou a içar a vela.
Regressava agora à aldeia e seria o primeiro na Prova. Olhando em frente, via já uma forma cinza entre o mar e o céu, e olhando para trás, apenas um pontinho negro.
Foi então que Ayandal viu um peixe, um enorme peixe vermelho nadando perto do seu bote. E pensou no que diriam na aldeia se, para além da placa de madeira, trouxesse também aquele enorme peixe vermelho. Imaginou as caras dos anciãos, dos seus pais e irmãos, imaginou a cara de todos na aldeia, os comentários que fariam sobre ele, o valoroso Ayandal, o primeiro a chegar ao barco, o primeiro a retornar à aldeia e ainda com tempo para pescar. Tudo isto pensou Ayandal no tempo que levou ao peixe passar por debaixo do bote.
Ayandal, vendo o peixe distanciar-se, acordou dos seus sonhos, reorientou a vela e fixou o mastro amarrando-o com uma corda. Pegou no arpão, amarrou-lhe a corda grande e esperou até estar suficientemente perto daquele grande, vermelho peixe. Então, fixando bem os seus pés no fundo do bote e agarrando com firmeza o arpão, fez pontaria. Arremessou o arpão, atingindo o peixe a meio do dorso.
E o céu tornou-se cinzento com nuvens e as vagas tornaram-se maiores e o vento soprou com mais força. Ayandal largou a corda do arpão e agarrou a do mastro segurando-a o melhor que podia. Mas a força de Ayandal não se comparava à força do mar, e ele viu a corda partir-se e o mastro rodar de encontro a ele e a escuridão...

Quanto tempo durou a tempestade, Ayandal não soube. Quando acordou viu que o céu mais uma vez era azul, o mar calmo e nem uma brisa soprava. Levantou-se e viu também que o mastro e a vela tinham sido levados pela tempestade, mas que lhe sobravam ainda os remos. Olhando em volta, viu, para leste e não muito longe, uma mancha castanha que se estendia por todo o horizonte. Começou a remar e, olhando por cima do ombro, vendo a mancha tornar-se mais nítida houve algo que o sobressaltou. Era terra que ele via, mas não a terra que ele conhecia. Chegou a uma praia, arrastou o bote até junto às rochas, onde o deixou. Voltou para junto da água, fez uma concha com as mãos e provou a água. Sorriu. Poderia não conhecer aquele lugar, mas a água tinha a mesma deliciosa falta de sabor que a do mar que conhecia.
Caminhou terra adentro, procurando pessoas e comida. E comida encontrou, mas não pessoas. Talvez estivesse numa zona não povoada, pensou. Voltou para a praia e, com o seu bote e alguns ramos e arbustos, fez um abrigo para essa noite. Tentava dormir e não conseguia. Saiu do abrigo e, olhando o céu, percebeu o que o preocupava. Não reconhecia uma única estrela, não reconhecia nada no céu. Tudo era completamente diferente.

...

Não tendo bote nem maneira de fazer um novo, decidiu explorar aquela terra, procurando alguém que o pudesse ajudar. Durante anos vagueou, sem encontrar pessoas. Um dia houve em que encontrou uma aldeia. E os homens que encontrou nessa aldeia nada sabiam da sua língua nem, como veio a descobrir, da sua terra ou de como fazer barcos. E Ayandal ensinou-lhes o que sabia sobre barcos e sobre o mar, e com eles começou a conhecer aquela nova terra.


Um dia Ayandal voltou a ver o mar. E lembrou-se da sua aldeia. Ajoelhou-se, fez uma concha com as mãos e provou a água. Havia algo estranho naquela água, um sabor que lhe lembrava alguma coisa que que há muito esquecera. Mas Ayandal não se conseguia lembrar. Levantou-se, olhou o mar e voltou para dentro de terra.
Muitos anos se passaram e muitas vezes Ayandal voltou a ver o mar, e muitas vezes o atravessou, em barcos iguais aos que tinha conhecido na sua aldeia e no seu mundo. E muitos mais anos se passaram, e os barcos em que atravessava o mar já não eram de madeira, eram de metal, e os barcos em que atravessava o mar já não eram de metal, eram de coisas de que ele não sabia o nome.

...

Uma noite Ayandal chegou a uma praia. Olhou em frente, para a escuridão do mar, e para cima, para as estrelas que nunca deixariam de ser estranhas para ele.
Então Ayandal lembrou-se. Lembrou-se de ser pequeno e de chorar e da água dos seus olhos ter aquele gosto salgado. E lembrou-se de todos aqueles que tinha deixado e da tristeza que sentiriam pelo seu desaparecimento, de quantas lágrimas teriam sido precisas para tornar o mar salgado. E de que nenhuma dessas lágrimas era dele.

Postcards from Sunny Edinburgh...

quarta-feira, abril 19, 2006

já que preferem postais




E ao mesmo tempo não sei. Corro sempre o risco de ficar perdido em Francoforte ou Amsterdã (parece que também se escreve assim), mesmo que não me deixem fazer escala de uma noite, que não deixam. E não conseguir sair mais.

Isto para dizer que não, que a KLM não tem os voos mais baratos, e sim a Lufthansa, mas que não posso marcar coisíssima nenhuma sem um bocado de plástico. Ou seja, tenho um mês para me cortar.

A tia Cecília não sabia, mais uma vez, que os porquinhos não estão em Lisboa, não vão estar em Lisboa, e foram para um sítio frio durante montes de tempo. Já lhe expliquei outra vez. «Mas não voltam?» (Acho que não.) «E foram assim, sem mais nem menos?» (Parece que sim.) «E fazem o quê?» (Como se eu soubesse.)

Não preferem Agosto? Há quanto tempo é que eu digo que não me apanham noutro sítio antes de ir aos Açores? -- e a feira do livro é em maio e é preciso "facturar"...


PS: Não percebi a morada. E149 ou E199?

PPS: Sr.??? Devo passar a escrever Mr and Mrs Pig?

PPPS: Cinquenta e cinco graus e cinquenta e oito minutos norte???

terça-feira, abril 18, 2006

[três meses, três semanas, três dias]


sábado, dezembro 17, 2005

Os Fumadores de Brokas #5 [pdf]

Editorial
Entrevista com António Pedro Cerdeira
«O meu mundo é origami», reportagem sobre conselho fiscal
Crise financeira na DAE
BC falha Garcia e Marcelo
Como é que um homem que se deixou seduzir por um anarquista como Sócrates pode ter um sistema? Pré-publicação do ensaio de Pe Ayres Magalhães, filósofo Anti-Platónico
OFB patrocina lista para órgãos da AEFLL e FLUL -- Conheça os nomes
A Culpa é do Beto -- contributos para a compreensão da actual crise de resultados e exibições do SL Benfica
A Bófia em Letras
Agenda Distópica
Litografia S. Roque -- já aqui cosia cesário os seus livros!
Este mês o Conselho Directivo destaca
Vozes de burro não chegam ao céu
Declaração da DAEFLUL
Sugestões de Compras Natalícias
Matrix Occhialli
Crime na DAE -- diálogo didáctico entre pseudobruno carapinha e paulo afonso
A cavalo dado não se olha o dente
Sudoku
Palavras Cruzadas
Mors-Amour
Um texto sério sobre os estatutos
Curtas
Necrologia
Classificados
As Aventuras do Verdadeiro Empédocles
Peixeiradamente Falando -- a crónica de Vulva Varina
As Presidenciais -- uma crónica de Vasco Bebido Valente


Tudo isto, e uma pitada de mau gosto (q.b.), na edição n.º 5 (ou 4) de Os Fumadores de Brokas.


Já nas bancas -- ou em pdf.


quinta-feira, dezembro 08, 2005

ò meu amigo bruno carapinha [#2]


Há quem nasça ambicioso.

Há quem morra arrivista.



ou: como é que alguém que foi defendido pelo amaralismo do pc está agora do lado amarelista do bloco ps? solidariedade dinossáuria? e que tal é ter cartão do bc? e para quando o psd?


quarta-feira, novembro 23, 2005

não gosto, não quero, não deixo

domingo, novembro 06, 2005

2008

Lembrem-me de não voltar a fazer piadas estúpidas com cartazes de filmes piores. Estou farto de japoneses, franceses, espanhóis, brasileiros, belgas, alemães.

quinta-feira, novembro 03, 2005

uma campanha triste

por que é que a jad me acabou de parecer tão pequenina quanto a ad???

$216,916,285,465

Sim, gato, agora que falas nisso...

O contador escondidinho ali ao canto (The Cost of War in Iraq) já ultrapassou os duzentos (podíamos dizer biliões que ninguém dava por isso) mil milhões de dólares, e pelos vistos há uns meses, depois de se ter arrastado miseravelmente nas dezanove centenas dezenas.

Isto depois (ou antes, provavelmente antes) de o sacana n.º 2000 ter batido a bota há uma ou duas semanitas (como é que era, chamavam-lhe "avozinho" porque era estupidamente mais velho que todos os outros, com os seus trinta-e-dois anos?).

E já agora pergunto, se não me lembrar entretanto: não há maneiras mais fáceis, mais baratas, de matar putos estúpidos a quem ninguém dá emprego em mais lado nenhum (e cito, não só o miguel como a lurdes)???

Quanto custava mesmo abrir e tapar buracos?

terça-feira, novembro 01, 2005

Jornais de Referência / Jurisdiquices

1. Não é mesmo possível olhar para o DN sem perceber alarvidades, pois não?

A maioria dos partidos espanhóis apoia a alteração à Constituição, com excepção da Esquerda Unida, cujo coordenador, Gaspar Llamazares, afirmou irá defender uma posição republicana durante os debates.

A Esquerda Unida não quer alterar a constituição, a Esquerda Unida acha que tudo está bem...

Será como em letras? Existirá uma República Federal Espanhola?

O Estado Espanhol funciona há décadas por cima de uma comissão de revisão de estatutos que ainda não conseguiu aprovar uma constituição monárquica???


2. Mas se me conseguirem explicar também agradeço (é incultura jurídica, pois...).

Se o objectivo é aprovar uma lei mais "igualitária" e "democrática" (e para isso era mais fácil mandar à merda os tipos com nome de uísque), e se as alterações constitucionais têm, parece que têm, efeitos retroactivos (pois se a Lianor já nasceu) -- como raios é que o outro continua a ser o primeiro na linha de sucessão? Não tem irmãs???

Dito isto, sempre queria ver a miúda contrair matrimónio com uma jornalista daqui por uns anos. Isso sim.

domingo, outubro 30, 2005

frases ambíguas


um quinto

dos portugueses
com
ensino superior

não trabalha
em portugal
.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Ana Madalena

Não é a Arte da Fuga, nem o filme, nem o livrinho todo, nem só o Gustav, mas...

sexta-feira, outubro 21, 2005

prefixo para insultos: sa-

sacana adj., s.m. [pop.] maroto; patife; biltre (De origem obscura)

sacrista

sacripanta s.2gén. 1 pessoa desprezível; 2 pessoa de mau carácter; 3 pessoa hipócrita (De Sacripante, antr., nome de uma personagem do poema Orlando Furioso, de L. Ariosto, poeta italiano 1474-1533)

safardana s.2gén. 1 [pop.] pessoa sem escrúpulos; pessoa desavergonhada; 2 [pop.] pelintra; bigorrilhas (De Sefardim, casta de Judeus hispânicos)



PS - aceitam-se contribuições...

quinta-feira, outubro 20, 2005

Books of Revelation
By Eric Schmidt
The Wall Street Journal
October 18, 2005

Imagine sitting at your computer and, in less than a second, searching the full text of every book ever written. Imagine an historian being able to instantly find every book that mentions the Battle of Algiers. Imagine a high school student in Bangladesh discovering an out-of-print author held only in a library in Ann Arbor. Imagine one giant electronic card catalog that makes all the world's books discoverable with just a few keystrokes by anyone, anywhere, anytime.

That's the vision behind Google Print, a program we introduced last fall to help users search through the oceans of information contained in the world's books. Recently, some members of the publishing industry who believe this program violates copyright law have been fighting to stop it. We respectfully disagree with their conclusions, on both the meaning of the law and the spirit of a program which, in fact, will enhance the value of each copyright. Here's why.

Google's job is to help people find information. Google Print's job is to make it easier for people to find books. When you do a Google search, your results now include pointers to those books whose contents, stored in the Google Print index, contain your search terms. For many books, these results will, like an ordinary card catalog, contain basic bibliographic information and, at most, a few lines of text where your search terms appear.

We show more than this basic information only if a book is in the public domain, or if the copyright owner has explicitly allowed it by adding this title to the Publisher Program (most major U.S. and U.K. publishers have signed up). We refer people who discover books through Google Print to online retailers, but we don't make a penny on referrals. We also don't place ads on Google Print pages for books from our Library Project, and we do so for books in our Publishing Program only with the permission of publishers, who receive the majority of the resulting revenue. Any copyright holder can easily exclude their titles from Google Print -- no lawsuit is required.

This policy is entirely in keeping with our main Web search engine. In order to guide users to the information they're looking for, we copy and index all the Web sites we find. If we didn't, a useful search engine would be impossible, and the same dynamic applies to the Google Print Library Project. By most estimates, less than 20% of books are in print, and only around 20% of titles, according to the Online Computer Library Center, are in the public domain. This leaves a startling 60% of all books that publishers are unlikely to be able to add to our program and readers are unlikely to find. Only by physically scanning and indexing every word of the extraordinary collections of our partner libraries at Michigan, Stanford, Oxford, the New York Public Library and Harvard can we make all these lost titles discoverable with the level of comprehensiveness that will make Google Print a world-changing resource. But just as any Web site owner who doesn't want to be included in our main search index is welcome to exclude pages from his site, copyright-holders are free to send us a list of titles that they don't want included in the Google Print index.

For some, this isn't enough. The program's critics maintain that any use of their books requires their permission. We have the utmost respect for the intellectual and creative effort that lies behind every grant of copyright. Copyright law, however, is all about which uses require permission and which don't; and we believe (and have structured Google Print to ensure) that the use we make of books we scan through the Library Project is consistent with the Copyright Act, whose "fair use" balancing of the rights of copyright-holders with the public benefits of free expression and innovation allows a wide range of activity, from book quotations in reviews to parodies of pop songs -- all without copyright-holder permission.

Even those critics who understand that copyright law is not absolute argue that making a full copy of a given work, even just to index it, can never constitute fair use. If this were so, you wouldn't be able to record a TV show to watch it later or use a search engine that indexes billions of Web pages. The aim of the Copyright Act is to protect and enhance the value of creative works in order to encourage more of them -- in this case, to ensure that authors write and publishers publish. We find it difficult to believe that authors will stop writing books because Google Print makes them easier to find, or that publishers will stop selling books because Google Print might increase their sales.

Indeed, some of Google Print's primary beneficiaries will be publishers and authors themselves. Backlist titles comprise the vast majority of books in print and a large portion of many publishers' profits, but just a fraction of their marketing budgets. Google Print will allow those titles to live forever, just one search away from being found and purchased. Some authors are already seeing the benefits. When Cardinal Ratzinger became pope, millions of people who searched his name saw the Google Print listing for his book "In the Beginning" (Wm. B. Eerdmans) in their results. Thousands of them looked at a page or two from the book; clicks on the title's "Buy this Book" links increased tenfold.

That's the heart of the Google Print mission. Imagine the cultural impact of putting tens of millions of previously inaccessible volumes into one vast index, every word of which is searchable by anyone, rich and poor, urban and rural, First World and Third, en toute langue -- and all, of course, entirely for free. How many users will find, and then buy, books they never could have discovered any other way? How many out-of-print and backlist titles will find new and renewed sales life? How many future authors will make a living through their words solely because the Internet has made it so much easier for a scattered audience to find them? This egalitarianism of information dispersal is precisely what the Web is best at; precisely what leads to powerful new business models for the creative community; precisely what copyright law is ultimately intended to support; and, together with our partners, precisely what we hope, and expect, to accomplish with Google Print.

Mr. Schmidt is CEO of Google.

OLHA QUEM ELE É...

Empresa pretende digitalizar milhões de obras
Biblioteca online do Google enfrenta resistência dos editores norte-americanos
20.10.2005 - 15h57 PUBLICO.PT, Agências

A Associação Norte-americana de Editores (AAP, na sigla em inglês) apresentou uma queixa num tribunal de Nova Iorque contra a criação de uma vasta biblioteca online pela empresa Google.

O Google Print Library Project prevê a digitalização de títulos de cinco grandes bibliotecas – entre elas a da Universidade do Michigan e a Biblioteca Pública de Nova Iorque.

A AAP, que inclui empresas como a Penguin e a McGraw-Hill, pretende que o tribunal proíba o Google de colocar online as obras protegidas pelos direitos de autor.

O Google interrompeu o processo de digitalização de livros protegidos pelas leis do "copyright" em Agosto, devido às crescentes críticas das editoras, mas pretende retomar o seu projecto no próximo mês.

A presidente da AAP, Patricia Schroeder, apontou que as pretensões do Google vão muito além da simples criação de um catálogo de obras com os seus dados bibliográficos, sugerindo à empresa que para esse efeito "digitalize a primeira página dos livros com todos os dados bibliográficos".

O Google já respondeu a estas acusações através de um artigo publicado anteontem no “The Wall Street Journal”, assinado por Eric Schmidt, um dos responsáveis da empresa. Numa resposta aos críticos, Schmidt salienta que o projecto não viola as leis do "copyright", já que o conteúdo integral das obras protegidas pelos direitos de autor não será revelado. Segundo o responsável, a empresa defende apenas o chamado “uso justo” de pequenos excertos que permitam simplificar a investigação e a identificação de diversas temáticas dentro de um vasto universo bibliográfico.

ISTO NÃO É UM JARDIM

CLUBE DUMAS...

Os Sacerdotes do Livro
Por HISTÓRIAS DE LIVREIROS-ALFARRABISTAS
Domingo, 11 de Abril de 2004

%Paulo Moura

História verdadeira, contada por Tarcísio Trindade à Pública: O homem abre a mala e espalha os livros no chão. É um dos muitos vendedores de alfarrábios e outras velharias que costumam encher a Feira do Rastro de Madrid, Espanha. Estamos num domingo dos anos 60. Tarcísio Trindade veio a Espanha trazer a mãe ao médico. Aproveita para dar uma volta pelo que é considerado a maior feira da ladra em todo o mundo. É um hábito próprio de uma família de antiquários como a sua. O homem espalha vários volumes, uns recentes outros muito velhos, alguns álbuns de banda desenhada. Tarcísio baixa-se, atraído por um calhamaço cuja encadernação lhe parece bastante antiga. Folheia-o. É uma "miscelânea", com quatro obras encadernadas juntas, todas da mesma época. Século XV, quase pode garantir. "Quanto é?" Trás o incunábulo por 500 pesetas.

Já no hotel, folheia a sua preciosidade com a mãe. Não há dúvidas: um dos quatro livros está escrito em português. Intitula-se "Tratado de Confissom". E, também parece não restarem dúvidas, foi impresso em 1489, em Chaves. Ora é sabido que o livro impresso mais antigo escrito em português é o "Vita Christi", de 1495. Ou melhor: era.

Neste momento, Tarcísio só tem uma ideia na cabeça: vender o incunábulo. Quarenta anos mais tarde, a estratégia será a mesma. Na sua livraria, na Rua do Alecrim, em Lisboa, as obras não param muito tempo. É costume os colegas livreiros lá irem esquadrinhar os últimos achados do Tarcício, e levarem alguns para revenda.

Um desses colegas, Tavares de Carvalho, aprendeu com ele a arte dos negócios bibliófilos. Mas adoptou um estilo diferente: gosta de manter os livros em seu poder durante anos. Segundo ele, porque tem cultura suficiente para saber o valor de uma obra e não tem pressa de a vender. Espera até que apareça alguém a oferecer o preço justo. Se não aparecer, não vende. O que também é bom. É prestigiante para o livreiro o saber-se que possui certas obras, tal como é saber-se que protagonizou certas histórias. Peças de valor imenso, como uma primeira edição de "Os Lusíadas" ou da "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto, acabam por emprestar o seu valor ao próprio livreiro, enquanto estiverem na sua estante. E usado esse valor ele fará melhores negócios, sem alienar os preciosos volumes.

Se isto é verdade, ser proprietário do "Tratado de Confissom" equivaleria a um autêntico título nobiliárquico. Não obstante, Tavares de Carvalho teria recusado dar os 150 contos que Tarcísio lhe pediu por ele, em 1964.

História falsa, contada por Tarcísio Trindade à Pública: Tavares de Carvalho era aluno do catedrático da Universidade de Lisboa José Pina Martins, no início de 1965. Um dia, Pina Martins refere na aula de Literatura que o mais antigo incunábulo português se chama "Vita Christi" e data de 1495... O jovem Carvalho põe o dedo no ar. "Não é verdade. Um amigo meu de Alcobaça tem em casa um livro mais antigo."

De início, o professor não acreditou. Mas começou a andar angustiado com a ideia, com a mera possibilidade de existir um incunábulo anterior a 1495, e não descansou enquanto não convenceu o aluno a marcar um encontro com Tarcício. Esse encontro, ocorrido na livraria O Mundo do Livro, de João Pires, é a parte verdadeira da história e foi através dele que Tavares de Carvalho, que nunca foi aluno de Pina Martins, entrou para a história verdadeira do "Tratado de Confissom".

Ao fazê-lo, traiu, porém, "Vita Christi", que mais tarde o procuraria, para se vingar.

Um dia, encontrou num leilão na Alemanha dois dos quatro volumes do segundo mais antigo incunábulo português. Comprou-os. Os livros estavam em mau estado mas tinham marcas curiosas, como carimbos de D. João VI e do Brasil, que permitiram traçar a sua história. Terão pertencido à biblioteca de D. Manuel II, que casaria com a princesa alemã Augusta Victoria de Hohenzollern, de quem não teve filhos. Após a morte de D. Manuel em Londres, para onde fora expulso pelos republicanos, Augusta casou com um médico sueco, de quem também não teve descendência, pelo que a "Vita Christi", com a morte de Augusta Victoria em 1965 (precisamente quando o "Tratado de Confissom" estava a ser encontrado na feira da ladra espanhola) acabaria por ser herdado por uns obscuros sobrinhos alemães, que terão precisado de dinheiro e o venderam à peça.

Tavares de Carvalho soube que os dois volumes em falta estavam na posse de um duque inglês primo direito dos ditos sobrinhos. Telefonou-lhe, ele não quis vender. Mesmo assim, enriquecidos com toda esta história, os seus dois volumes foram vendidos a um coleccionador por alguns milhares de contos, um valor no entanto incomparavelmente inferior ao que atingiriam, se o "Tratado de Confissom" nunca tivesse sido encontrado.

Oriundo de uma família de bibliófilos (o avô foi notário de D. Manuel II e amigo pessoal de um dos mais famosos livreiros do mundo, Maurice Ettinghausen), Tavares de Carvalho estudou Direito e Histórico-Filosóficas, com o intuito de seguir a carreira diplomática. Mas foi preciso ter sido chamado para o serviço militar e para a guerra do Ultramar para compreender que a diplomacia não era mais do que uma "tropa de salão". Decidiu dedicar-se apenas aos livros, depois de ter herdado a biblioteca do avô. Ainda jovem, partiu sozinho para a Europa. Durante cinco meses, viajou entre Paris e Londres, de comboio a vapor, correndo livrarias e alfarrabistas, comprando livros numa cidade, vendendo na outra.

A bibliofilia tem particularidades distintas nos dois países. Em França, por exemplo, não são apreciados livros que não sejam franceses. Já em Inglaterra, mercê da sua tradição imperial, há um grande interesse por obras estrangeiras. Era nessas diferenças que o jovem livreiro apostava para atribuir as suas mais-valias às peças que comprava.

Foi nessa altura que compreendeu que o preço de um livro depende apenas do valor que alguém está, por alguma razão, disposto a atribuir-lhe. E que a arte do livreiro consiste em conhecer e virar a seu favor esse flutuar das paixões. Foi esse talento que Tavares de Carvalho descobriu e exercitou entre Londres e Paris, em 1963. "Dava para pagar as viagens e os hotéis", recorda, hoje, sentado numa das poltronas de veludo azul da sala onde recebe os seus clientes "by apointment". É uma sala redonda, com várias portas e janelas, uma mesa ao centro e um grande lustre, forrada a estantes com livros antigos, encadernados a pele e dourados. Primeiras edições de "Os Lusíadas", portuguesa, espanhola, inglesa, primeiras edições de Eça, Camilo, uma colecção de incunábulos do século XV: "Tenho livros que ninguém sabe ainda que existem."

O telefone toca frequentemente, é preciso ir atender clientes de várias partes do mundo, interessados em livros exóticos, pergaminhos, raros, únicos, inexistentes. Cada coleccionador tem os seus gostos, as suas especialidades, as suas manias, as suas extravagâncias. E o livreiro tem de conhecer tudo isso, para que, quando lhe chegar às mãos algum promissor espécime, saber a quem deve telefonar.

Alguém, por exemplo, a quem falte um único exemplar da primeira edição do "Arquivo Histórico Portuguez", a obra rara de Anselmo Brancamp Freire e D. José da Silva Pessanha, e que será capaz de matar para o obter. Um coleccionador fanático por viagens daria tudo por ter uma primeira edição de "Peregrinação". Se for um coleccionador e tiver dinheiro para a compra - o que parece não ser o caso do repórter Peter Arnett, que veio a Lisboa, a esta sala, de propósito para adquirir a primeira edição do famoso livro de viagens português. Concordou com o preço de 25 mil dólares, deixou um cheque de adiantamento de mil dólares e... nunca mais disse nada.

História falsa contada por Tarcísio Trindade a Tavares de Carvalho: os antiquários Campos Trindade são informados de que uma família numa aldeia do Norte quer vender uma mobília de quarto antiga. Tarcísio desloca-se à casa respectiva e compra várias peças de mobiliário, entre as quais uma cómoda que, viria a descobrir mais tarde, trazia por engano um livro encadernado numa das gavetas. Depois de examinada a "miscelânea", Tarcísio descobre com assombro que ela contém um incunábulo em português, intitulado "Tratado de Confissom" e datado de 1489, mais antigo que o "Vita Christi".

Num livreiro, o estilo é tudo. Tavares de Carvalho cultiva as relações pessoais com os clientes, a quem frequentemente chama "amigos". Conhece-lhes os pontos fortes e fracos, logo, o que lhes pode vender, quando e por quanto. Dispensa a Internet e os computadores, trabalha numa espécie de círculo de cavalheiros, restrito embora espalhado pelo mundo, regulado pela confiança e o afecto.

Herculano Ferreira, 45 anos, livreiro do Porto, tem outro estilo. Gosta de livros, mas também de computadores.

Introduziu num sistema informático fichas dos cerca de 50 mil livros que tem para venda. E também fichas de todos os clientes, em que incluiu, além dos dados habituais, informações sobre os seus gostos e especialidades. E como não havia no mercado nenhum programa específico, ele próprio construiu um. Herculano, cuja formação é em Música e nunca soube nada de computadores, pôs-se a estudar informática, para elaborar o "software" de que precisava.

Dir-se-ia que é a nova geração de alfarrabistas em acção, não fosse o facto de o pai, Manuel Ferreira, 72 anos, ser ainda mais entusiástico dos computadores.

Manuel Ferreira é um dos mais antigos e prestigiados livreiros alfarrabistas portugueses. Tinha, desde há 45 anos, uma livraria, que este ano fechou as portas. Deixou de fazer sentido estar ali o dia todo à espera de clientes.

Dantes, o estabelecimento da Rua Formosa era mais do que uma livraria. Era uma tertúlia. Intelectuais, artistas, estudantes ou amantes dos livros tinham o hábito de a frequentar. O ritual dos livros passava por ali. Hoje não. Os livros são cada vez mais uma paixão solitária.

Manuel e Herculano editam regularmente catálogos, que enviam aos clientes. Incluem umas centenas de obras, de escolha não completamente aleatória. Se conta do catálogo, por exemplo, um livro de Botânica, tentam incluir mais um ou dois títulos sobre o mesmo tema, para tentar o cliente que se poderá ter interessado pelo primeiro. Os coleccionadores tendem a desenvolver interesses temáticos e, quando não, o próprio livreiro incentiva-os a fazerem-no. É a sua maneira de influenciar os coleccionadores. De os aconselhar, de os convencer do valor de certos livros em relação a outros. Do ponto de vista do investimento, mas também do suposto valor intrínseco dos livros. Dessa forma, o livreiro vai-se tornando numa espécie de tutor, não apenas dos coleccionadores, que neles confiam, mas dos próprios livros. "Os catálogos deixam uma marca para o futuro", diz Manuel Ferreira, que é capaz de passar meses fechado com os seus livros, a estudá-los, para os converter numa ficha completa, fiel e rigorosa. Manuel Ferreira apaixonou-se pelos livros na infância. Os pais tinham uma loja de mobiliário usado onde ele trabalhava, e em cuja montra colocava à venda os livros que já lera, com um único objectivo: comprar outros livros. Mas fazia-o a um tal ritmo que começou a ganhar algum dinheiro, pelo que hoje pode dizer que iniciou o seu negócio aos 12 anos. Pode pelo menos dizer que sabia, desde essa altura, que ia ser essa a sua profissão. Mais tarde, alugou um vão de escada para guardar e vender os seus livros. Aos 18 anos, o pai comprou uma biblioteca que tinha de revender e ele ofereceu-se para organizar o leilão. Dez anos depois, abriu a livraria na Rua Formosa. Hoje, continua a organizar leilões e a prestar aos livros a mesma reverência da infância, quando os via como um bem quase inalcançável. Para ele, que apenas fez a 4ª classe mas passou a vida a ler, os livros são objectos de culto. Obrigam a uma pureza de intenções e de métodos. A uma ética. É-lhes inerente um conjunto de rituais e de obrigações. Manuel Ferreira nunca se atreveria, por exemplo, a organizar um leilão com obras seleccionadas de várias bibliotecas. Porque uma biblioteca é uma unidade, ligada ao nome de quem a reuniu ao longo de uma vida ou de várias gerações. É um património que não há o direito de corromper. Por maioria de razão, um livro é uma unidade que não se pode profanar. Certos exemplares, em certos momentos, podem valer menos do que a soma das gravuras que contêm. Isso não pode ser razão para lhes arrancar as páginas, vendendo-as separadamente. Alguns livreiros sem escrúpulos fazem-no. Mas, a longo prazo, acabam por se arrepender. Porque os livros que ultrajam voltam para se vingar, como sempre. O mercado de livros antigos tem características únicas, provavelmente mágicas. Como se a mão invisível do Destino viesse repor uma ordem sagrada.

Herculano Ferreira mostra um exemplar do "Arte de Cavalaria", de Manuel Carlos de Andrade, pseudónimo do marquês de Marialva, de 1790. Vale uns 6000 euros se tiver todas as gravuras. Se faltar alguma, ninguém dará por ele metade daquele valor. Há alguns anos, havia no mercado bastantes exemplares completos da obra. Hoje, por certos livreiros lhes terem arrancado as gravuras, são raros. Mas precisamente por isso, o seu valor aumentou, ultrapassando infinitamente o das gravuras que lhe foram rasgadas. Quem o fez bem pode agora lamentar não possuir um exemplar completo.

É como se os livros fossem divindades e os livreiros os seus sacerdotes. Compete-lhes zelar pelos seus ícones, fazer-lhes a liturgia. Os leilões, os catálogos, a conservação, o restauro. Fazer-lhes o culto, o que significa atribuir-lhes valor. Uma das formas é assegurar que estejam em boas mãos.

Uma vez, Herculano comprou um livro por um preço irrisório, um interessante conjunto de pergaminhos. Tratava-se dos documentos de João Martins Ferreira, um autarca do Porto do século XVI.

Herculano e Manuel Ferreira logo perceberam que tinham nas mãos uma peça de valor incalculável para a história da cidade, e trataram de garantir que ela fosse para a Biblioteca Municipal ou para o Arquivo Histórico. Queriam vendê-la a uma dessas instituições, mas por que preço? Pai e filho tiveram ideias diferentes. Manuel achou que podia pedir dez mil contos; Herculano acreditava poder ir aos 20 mil. Venderam ao Arquivo Histórico por 12 mil contos. Um coleccionador privado quis cobrir aquele valor, mas Manuel Ferreira recusou. "Preferia vender a uma universidade americana, que pelo menos é certo que estudaria os documentos e publicaria os resultados, a que todos teríamos acesso, na Internet."

Se tivessem vendido ao particular, a peça perderia valor. No Arquivo Histórico, ganhará, mesmo que nunca mais seja vendida. "Somos nós que damos valor a um livro", explica Herculano. "Se o vendermos barato, estamos a retirar-lhe realmente valor. Se o vendermos mais caro, estamos a atribuir-lhe um valor que não tinha, e que não vai perder. É como o caso daquele incunábulo que estava numa aldeia a segurar... uma vela, acho eu. Enquanto não foi descoberto o seu valor real, ele não valia realmente nada, a não ser para segurar uma vela."

História falsa contada por Tarcísio Trindade a Manuel Ferreira: o antiquário é chamado para avaliar uma mobília numa casa de aldeia. Em cima de uma mesa, usado para apoiar a candeia de azeite que iluminava a casa, está um velho alfarrábio encadernado. O antiquário abre o volume e vê que ele inclui um incunábulo escrito em português e datado de 1489. Intitula-se "Tratado de Confissom".

Há um elo misterioso entre os livros. Remetem uns para os outros, dependem uns dos outros. O valor de um muda em função do aparecimento ou desaparecimento de outro, tanto no que respeita ao conteúdo, como ao preço que pode atingir num leilão.

Há uma espécie de cadeia energética entre os livros, de círculo espírita. Funciona enquanto alguém acreditar nele. O vulgo chama-lhe cultura. Também entre os livreiros há um elo esotérico. Todos contam e participam das mesmas histórias, verdadeiras ou falsas. Essas histórias confundem-se com as histórias dos livros, nos quais ficam impregnadas, alterando-lhes o valor.

Por isso, as histórias são, antes de mais, um capital. Por vezes, dir-se-ia que são elas, com toda a sua imponderabilidde e loucura, a verdadeira mercadoria deste estranho ramo de negócio.

Os livros propriamente ditos não passam por vezes de meros pretextos, dóceis veículos de paixões, manias e quimeras.

História verdadeira contada por Tarcísio Trindade à Pública: as mãos de Pina Martins tremem, ao pegar finalmente no "Tratado de Confissom", em Maio de 1965. O professor quase desmaia, ao observar a filigrana do papel, a data de impressão, 8 de Agosto de 1489... Pede três horas para estudar o incunábulo. Em troca, escreveria um artigo sobre ele no "Diário de Notícias". Tarcísio concorda, pois só a publicidade à mercadoria lhe permitiria vendê-la por bom preço. Mais tarde, daria 15 contos ao investigador, que comentaria: "Foi o artigo mais bem pago de toda a minha carreira."

Ao contrário do que se possa pensar, os livros valiosos não são muitos. Acontece frequentemente o mesmo livro passar várias vezes pelas mãos do mesmo livreiro. Uma das razões por que num alfarrabista não gosta de vender um livro para o estrangeiro é para que possa voltar a ganhar dinheiro com ele, mais tarde.

Tavares de Carvalho conta que chegou uma vez a jogar autêntico pingue-pongue com um amigo livreiro. Vendeu-lhe e comprou-lhe cinco vezes o mesmo "Arte de Cavalaria", de Manuel Carlos de Andrade. Um exemplar sem nenhuma gravura rasgada. Cada vez mais caro, por mero capricho de ambos, ou à medida que o livro se ia valorizando, ou que eles o iam valorizando...

"Há livros que vão e vêm", costumava dizer Aquilino Ribeiro, citado pelo livreiro João Pires, de quem o escritor foi amigo. João Pires, proprietário da livraria O Mundo do Livro, é, aos 84 anos, provavelmente o mais antigo livreiro português em actividade. Como tal, está no centro de muitas das histórias da bibliofilia nacional. Nos últimos anos, "traiu" os livros para se dedicar quase exclusivamente às gravuras. Mas mantém intacto o sentido de serviço à causa. De muitos dos livros raros e importantes que lhe passaram pelas mãos, fez edições fac-símile, oferecendo os originais a instituições como a Biblioteca Nacional ou a Gulbenkian.

Tornando essas obras acessíveis a muita gente, diminuiu, a curto prazo, o valor de cada exemplar original. A longo prazo, porém, aumentou-o, porque, ao ser conhecida e estudada, a obra torna-se mais relevante, logo mais valiosa.

História verdadeira contada por João Pires à Pública: um conhecido banqueiro, Miguel Quina, entra no Mundo do Livro. Corre o ano de 1965. O banqueiro quer saber as novidades, mas refere-se a uma em especial. Leu um artigo sobre um certo incunábulo... Está interessado em comprá-lo. Pires arranja um encontro com Tarcísio, que pede 400 contos pelo livro. O banqueiro concorda, e desaparece. Envia uma secretária com o dinheiro, no dia seguinte. Em contado, 360 notas de conto para Tarcísio, 40 para Pires, como combinado. A senhora deixa uma morada e parte com o "Tratado de Confissom".

História verdadeira contada por Tarcísio Trindade: o director da Biblioteca Nacional, acompanhado por dois funcionários, entra na loja. Diz que sabe da existência do precioso incunábulo e que vem, por ordem do ministro da Educação, arrolá-lo. "Mas eu já não tenho o livro", diz Tarcísio, mostrando o recibo de venda a João Pires.

História verdadeira contada por João Pires: Dois agentes da Polícia Judiciária esperam o livreiro, na sua casa de Oeiras. Querem saber se é ele o comprador do "Tratado de Confissom". Pires dá a morada da senhora que levou o livro, que os agentes descobrem ser falsa. Na manhã seguinte, o alfarrabista é levado num carro celular e interrogado durante todo o dia. Não revela o nome do banqueiro, que lhe pedira confidencialidade, mas consegue telefonar-lhe. Quina vai pessoalmente à polícia e consegue libertar Pires, mediante a promessa de o nome do banqueiro nunca ser revelado. À saída, o jornalista Raul Rego recolhe dados para o longo artigo que escreveria criticando o regime pela sua política de desprezo pelo património bibliográfico nacional.

Quina manterá o volume em seu poder até aos anos 80, quando o vendeu à Biblioteca Nacional por vários milhares de contos.

As instituições oficiais não têm uma política de aquisições coerente, pensa ainda hoje João Pires. Dá o exemplo de uma obra de 1601, de Simão Machado, que representa a introdução do teatro heróico em Portugal. Conseguiu um exemplar e tentou vendê-lo à Biblioteca Nacional por cem contos. Só existe outro exemplar conhecido na Biblioteca do Vaticano. Acharam caro.

Nuno Gonçalves, um livreiro e organizador de leilões de 28 anos, explica que o Estado desconfia dos negócios dos livreiros particulares. Só compra livros em leilões, usando muitas vezes o direito de opção. No entanto, a nova geração de livreiros caracteriza-se, segundo Nuno Gonçalves, que estudou História e Matemática, por ter corrigido os critérios de avaliação das obras que negoceia. Mais culta e dada ao estudo do que a geração anterior, está mais atenta ao valor literário e científico das obras e à sua importância futura. "Muitas vezes os livreiros fazem-se críticos literários sem o serem", confessa.

Os livros de Herberto Helder serão muito valorizados no futuro, devido ao alcance do seu conteúdo, opina. Já os de Saramago tenderão a desvalorizar-se. Mostra uma primeira edição da "História de Portugal" de Alexandre Herculano. "Esta é uma obra que, pela sua importância, tem um valor dez vezes superior ao preço por que é vendida no mercado."

Sem as oportunidades da geração mais antiga de livreiros, que lançou os seus negócios com as bibliotecas compradas ao desbarato após o 25 de Abril de 1974, a nova geração teve de descobrir novas formas de criar mais-valias. Introduzindo novos critérios de interesse nas obras existentes, criando interesses temáticos nos coleccionadores (de quem se assumem como "educadores"), ou incentivando de outras formas o culto do livro como objecto.

Paulo Ferreira, um inovador livreiro do Porto, criou uma empresa, a In-Libris, que não só negoceia em livros antigos como, além de outras mil actividades, edita livros novos com critérios bibliófilos. Mistura técnicas hipermodernas com artes há muito esquecidas e acrescenta-lhes uma boa história.

História falsa contada por Tarcísio a Paulo: o antiquário entra numa casa de aldeia, onde descobre um velho volume encadernado a calçar uma pipa... era o "Tratado de Confissom".

Paulo Ferreira fez um livro sobre a tragédia ecológica do navio "Prestige", cuja capa é de ferro enferrujado com água do mar da Galiza. Fez outro livro sobre uma azinheira que existe em Belgais, a estância para artistas de Maria João Pires. O livro inclui uma folha e um pedaço de casca da azinheira, um CD com os "sons que a azinheira ouve" - ruído do vento nas folhas, canto de pássaros, os exercícios de piano que alguém toca ao longe, dentro da casa - e poemas de Ramos Rosa sobre aquela azinheira. O poeta, que vive num lar em Lisboa, não escrevia nada há anos. Paulo Ferreira telefonou-llhe e disse: "Apaixonei-me por uma azinheira." Em menos de uma semana, recebeu o conjunto de poemas inéditos. Nasceu um livro. Intitula-se "Cada Árvore É Um Ser para Ser em Nós". Tem, como todos os livros, uma história e o valor que lhe quisermos dar.

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sexta-feira, outubro 14, 2005

O HOLOCAUSTO DAS MINHOCAS - I

autorecitação...

O que vale [e esta vírgula não está aqui a fazer nada], é que a minha incompetência só é suplantada pela dos outros...

quarta-feira, outubro 12, 2005

a bófia que os matou...

«Este ano morreram oito civis em consequência de disparos da PSP e GNR, quando em 2004 não se tinha verificado qualquer caso.»

[Informação inútil -- já que uma vez me dei ao trabalho de escrever sobre o assunto -- no jornal da manhã da tvi, em notícia sobre o «aumento do consumo de álcool e de droga nas esquadras»... E parece que há uma «indefinição» qualquer na pasta da Administração Interna do governo PS, o mesmo (+/-) que na altura das decapitações dizia que não se passava nada...]

Uma biblioteca universitária portuguesa

Preparando a minha tese de doutoramento, verifiquei que alguns títulos essenciais se encontravam disponíveis na Biblioteca da Faculdade de Letras de Lisboa. Dirigi-me ao edifício principal da mesma (...) e descobri que a maioria dos títulos necessários se encontravam disponíveis no Departamento de Cultura Americana e no Departamento de Filosofia. Aos mesmos me dirigi, às duas horas da tarde. No que diz respeito ao Departamento de Filosofia, nem um único funcionário se encontrava disponível, muito embora nos encontrássemos bem dentro do horário de funcionamento. Livros, nem vê-los. Esperei vinte minutos, adivinhando a tolerância com que os funcionários entenderiam o seu horário de almoço. Mas nada. Resolvi então tentar a minha sorte no Departamento de Cultura Americana. Informaram-me que, lamentavelmente, nesse dia, o departamento se encontrava encerrado no período da tarde, não sendo permitido o acesso aos livros. Aqui, ao menos, uma fresta permitiu-me entrevê-los, hermeticamente fechados em estantes envidraçadas. No dia seguinte, ainda com esperança, dirigi-me à Faculdade de Letras à hora de abertura dos departamentos em causa, com vista a aproveitar o (muito limitado) período em que os mesmos permitem o acesso às respectivas obras. Mas mais uma vez não tive sorte. No caso do Departamento de Cultura Americana, o respectivo horário de funcionamento iniciava-se às 13h30. Às 14h10, ninguém tinha chegado e o encerramento estava previsto para as 16h30. Uma professora da casa pediu-me para aguardar com paciência. O desânimo venceu e vim-me embora. Afinal, pouco mais me restava do que dirigir-me ao primeiro computador que encontrasse e encomendar os livros pela Internet, pagando o respectivo preço mais custos de envio. Custos que acrescem aos dos impostos com que todos financiámos a sua disponibilidade.

Luís Pereira Coutinho, Lisboa

PÚBLICO, «Cartas ao Director», 24 de Setembro de 2005.