Uma biblioteca universitária portuguesa
Preparando a minha tese de doutoramento, verifiquei que alguns títulos essenciais se encontravam disponíveis na Biblioteca da Faculdade de Letras de Lisboa. Dirigi-me ao edifício principal da mesma (...) e descobri que a maioria dos títulos necessários se encontravam disponíveis no Departamento de Cultura Americana e no Departamento de Filosofia. Aos mesmos me dirigi, às duas horas da tarde. No que diz respeito ao Departamento de Filosofia, nem um único funcionário se encontrava disponível, muito embora nos encontrássemos bem dentro do horário de funcionamento. Livros, nem vê-los. Esperei vinte minutos, adivinhando a tolerância com que os funcionários entenderiam o seu horário de almoço. Mas nada. Resolvi então tentar a minha sorte no Departamento de Cultura Americana. Informaram-me que, lamentavelmente, nesse dia, o departamento se encontrava encerrado no período da tarde, não sendo permitido o acesso aos livros. Aqui, ao menos, uma fresta permitiu-me entrevê-los, hermeticamente fechados em estantes envidraçadas. No dia seguinte, ainda com esperança, dirigi-me à Faculdade de Letras à hora de abertura dos departamentos em causa, com vista a aproveitar o (muito limitado) período em que os mesmos permitem o acesso às respectivas obras. Mas mais uma vez não tive sorte. No caso do Departamento de Cultura Americana, o respectivo horário de funcionamento iniciava-se às 13h30. Às 14h10, ninguém tinha chegado e o encerramento estava previsto para as 16h30. Uma professora da casa pediu-me para aguardar com paciência. O desânimo venceu e vim-me embora. Afinal, pouco mais me restava do que dirigir-me ao primeiro computador que encontrasse e encomendar os livros pela Internet, pagando o respectivo preço mais custos de envio. Custos que acrescem aos dos impostos com que todos financiámos a sua disponibilidade.
Luís Pereira Coutinho, Lisboa
PÚBLICO, «Cartas ao Director», 24 de Setembro de 2005.
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