quinta-feira, março 10, 2005

de volta ao google e aos livros, agora com a frância e os jornais

Não percebo se a história se limita a um artigo de opinião no Le Monde do director da BNF Jean-Noël Jeanneney — ou se a França mexe.

A história é a de que a Biblioteca Nacional Francesa pretende (vai?, irá?) digitalizar e disponibilizar na internet mais de vinte jornais franceses do século XIX e até 1944, a começar no próximo ano com Le Figaro, L'Humanité, Le Temps, seguindo-se-lhes outros dezoito títulos até 2010... Números gordos, potências de dez: trinta e dois milhões de páginas, 32.000.000 de euros.

A diferença em termos de credibilidade disto (só o artigo de opinião no Le Monde?, um programa apresentado para cimeira ver?, um plano previsto e em execução?, não percebo...), a diferença, em relação ao google print, não reside nos números — quinze milhões de livros até dão mais alguns zeros do que uma potência de dez à sétima (mesmo seguindo critérios soviéticos)...

pausa para citação-fétiche:

BOOKS. [...] The U.S.S.R. is the largest producer of books in the world, even when its annual title production figures are adjusted to allow for pamphlets and other variations in the concept of what constitutes a book, which is defined in the U.S.S.R. as a publication having not less than five pages. [...]

Collier's Encyclopedia, U.S.A., Crowell-Collier Educational Corporation, 1971.


A diferença está em que a Europa é muitas vezes pródiga de mais em ideias que não sabe como – nem pretende sequer conseguir – pôr em prática...

Porque mesmo que o plano do google esteja no segredo dos deuses — e que seja conhecido apenas através dos competentíssimos press-releases da corporação (vide as piadinhas sobre nenhum livro ter sido magoado in the making of etc.) e bibliotecas adjacentes —, ou exactamente por isso (nasdaq oblige), é certo que ele parece bastante mais sério do que o aparente esbracejar europeu/francês.

O monstro não fornece dados sobre a tecnologia que está a desenvolver (a inteligência corporativa é engraçada), como salienta o Le Monde, mas parece pensar no que está fazer — surpresa das surpresas, as páginas (mais de quatro mil milhões...) vão ser digitalizadas em modo texto (longa vida ao ocr), como se isso fosse algo de muito extraordinário...

É que, outra vez segundo o Le Monde, das oitenta mil obras disponíveis na Gallica, biblioteca numérica francesa, apenas mil e duzentas podem ser "lidas", e não apenas "vistas"... Alguém andou a fotografar setenta e tal mil livros, a trezentas páginas por volume, de telemóvel-de-terceira-geração ou equivalente em riste, presume-se, o que teve uma utilidade que se pode dizer discutível (ou de como a banda larga não é resposta para tudo), portanto. Até o gutenberg faz melhor.

Tendo isto em mente, e lembrem-se do minitel, estará a França, a Europa, finalmente disposta a ir para algum lado?


outras ligações anotadas:

uma: juntar a porbase a este estendal é só risível

duas: um francês a queixar-se, em francês

três: a lista das muitas obras do senhor director Jean-Noël Jeanneney à venda na fnac

quatro: isto existirá? e é o quê?

dão-se (dá-se?) alvíssaras a quem tiver mais e melhores links